25 maio 2004

Columbine é Aqui


Ficamos chocados com Michel Moore fazendo crítica à politica de armas dos EUA e à violência juvenil dentro das escolas, enquanto isso a pancadaria acontece aqui dentro das nossas escolas. Achamos que muito bem obrigado a nossa violência é aquela de marginais cariocas, de traficantes do morro, de pessoas sem instrução.... grande ilusão...
Enquanto fazem campanhas do agasalho e fome zero, adolescentes com veia política, participando de um grêmio estudantil ativo, com direito a verba e tudo mais estão ao mesmo tempo, por algum motivo que não se sabe bem porquê, perdendo a cabeça e colocando todas as respostas nas pontas dos punhos!

A uma semana minha irmã relatou um fato ocorrido dentro do seu colégio. Colégio Anchieta, Porto Alegre, anos de tradição em formação de futuros líderes, com enfâse na criação de idéias e na liberdade de expressão dos alunos. Os alunos se encontram de frente, formando um corredor, em uma parede alunos do primeiro ano do segundo grau em outra alunos do terceiro ano do segundo grau- todos entre 14 e 18 anos, todos de classe média/ alta capazes de pagar a mensalidade do colégio privado, todos com cultura geral aprimorada, com opiniões e críticas a respeito do governo, todos já iniciados no mundo dos relacionamentos, todos com noção da pobreza do país e muitos engajados em projetos de auxílio junto a escola.

Eu não estava lá presenciando, mas não precisava, o que se ocorreu foi o seguinte, os dois grupos de meninos se “pegaram”, se “ socaram”, “deixaram rolar a pancadaria”, “soltaram a mão” e perderam a compustura!! Foram socos e pontapés, meninos caídos no chão e chutados, narizes sangrando e palavrões proliverados e risos de “vitórias”... ainda por cima os que saíram de pé ainda ganharam o estímulo de algumas meninas também descabeçadas: “É isso aí guris, eles estavam mesmo se achando...” a cumplicidade é tão grave quanto o fato.

Minha irmã falou que uma das amigas pulou nas costas de um dos colegas para segurar ele fora da briga, e que os seguranças nada podiam contra um grupo de 20 “quase-homens”. Ela? saiu chorando nervosa em assistir a situação e se sentir impotente diante dos colegas cegos dentro do tumulto. Chocada, se questionando da indole daqueles colegas de anos, daqueles que participaram de festas e confraternizações e sempre foram amigos, e nunca esperou vivenciar tal campo de batalha.

Quando perguntados, os colegas tem um coveniente “branco” em relação a situação e não se lembram de ter chutado um conteporâneo no chão... O que dizer aos pais então? Recebem uma cartinha relatando o incidente dizendo que a segurança será aumentada.

E aquele que saiu mais quebrado? Parece que os pais fizeram uma queixa na polícia, com razão, mas lembrem-se, que ele pode ter apanhado mais, mas também estava no bolo e também queria bater, e resolver a situação mo “muque”.

O que pensar? Gangue intra-escolar? Tem droga no meio? O pior é que eu acho que não.

É só uma coisa de “fama” e “status” dentro do colégio? Acho que sim!

É um absurdo os futuros formadores de opinião desse país não saberem dialogar suas disavenças, é um absurdo não conseguirem conter seus hormônios e punhos, é um absurdo eles abusarem da liberdade que tem, é um absurdo eles acharem que tem o direito de se defender assim, é um absurdo eles ainda se sentirem no direito de criticar uma invasão no iraque ou uma política de guerra ,é um absurdo ele não se tocarem do absurdo da situação!!!

Na verdade isso tudo me entristece muito!! Eu estudei no mesmo colégio, mas fui parte de uma geração anterior, aqueles anos nos quais acabamos com as guerras de ovo, em que matamos aula para sair de cara pintada contra o Collor, em que fazíamos concurso para decidir o nome do jornal, e que estipulamos um doc de donativos para o grêmio... enfim que tentávamos fazer acontecer... E também nos divertíamos em bater boca com os padres, em roubar chamadas, em virar as classes de costas para o quadro, em fazer barulho de mosca e OLA, também fomos expulsos e levamos advertências, nós por exemplo traziamos pessoas estranhas para dentro do colégio, que na época não tinha portaria, fumavamos cigarros durante o recreio... enfim a gente também tinha 17 anos...

Eu não sei como nasce essa violência no ser humano e o que leva o uma liderança dessas liderar, mas acontece, e infelizmente os seguidores estão aí. Meio que do nada, meio que vítima da mídia e da enjurrada de violência do mundo, mas ao mesmo tempo conscientes da merda que estão fazendo!!

Estamos criando “mini-bushes”, que acham que estão corretos na sua opinião e na forma de defendê-la. Pobre de nós que realmente vemos isso, tentamos fazer algo, mas não sabemos como colocar na cabecinha desses “quase-adultos” o absurdo de tudo isso. Para mim recorrer a violência com um soco ou um tiro por nenhum motivo aparente (e mesmo que houve um motivo existem outras maneira de resolver...) é a mesma coisa!! O mesmo absurdo!!! No final das contas: COLUMBINE TAMBÉM É AQUI!!


Um comentário:

sebastiao disse...

bah...
isso aconteceu na minha escola também.
a adolescência é triste.
e fede.