10 julho 2007

A Nova Caixa Preta


Estamos vivendo um momento crítico no que toca a história e o rumo da televisão e das tecnologias envolvidas. Ainda não se sabe muito bem para que lado as coisas vão andar, mas sabemos que tudo deve andar muito rápido e, ainda, cada vez mais rápido. E sabemos que a nossas escolhas (nós enquanto profissionais de comunicação e líderes desse núcleo) serão de extrema importância dentro desse momento de escolha de caminhos a tomar.

Assim como o surgimento da televisão nos anos 40 a internet teve o seu boom nessa última década, que propiciou o enriquecimento de milhões e o surgimento não só de uma nova forma de comunicação, mas também uma nova forma de transmissão de informações e uma nova forma de entretenimento. O que vivemos agora é o início da confluência dessas duas tecnologias. INTERNET e TELEVISÃO, que estão caminhando juntas. Provavelmente o que teremos na nossa casa, num futuro não muito longínquo, será a junção das duas.

Falamos aqui de televisão como veículo, com forma de transmissão de informação e como principal forma de entretenimento da grande população, como veículo de comunicação de massas. Também entra em questionamento o formato pelo o qual temos acesso a esse conteúdo. A famosa caixa preta dentro de casa continuará a existir? Os valores culturais que começaram a ser intrínsecos da sociedade desde seu lançamento continuarão a ser os mesmo? Como isso tudo será recebido e adaptado por todos nós. Ou melhor: qual a melhor maneira de organizar e liderar as coisas nesse momento de transição?

É essencial que num primeiro momento identifiquemos o que caracteriza esse momento crítico. Temos que identificar quais são essas novas tecnologia e como isso tem sido recebido pela a sociedade. Além disso, não podemos deixar de ter nossa mente para o futuro, enxergando quais são as novas surpresas que, principalmente a tecnologia, pode nos oferecer. Temos que nos preparar para a situação atual e a situação futura.

A situação atual é cheia de falhas que serão sujeitas a adaptações tanto do público, e aparelhos, quanto o dos produtores e emissores de conteúdo.

Vemos que o entretenimento via televisão (imagens e informação), é cada vez mais marcado pela mobilidade e individualidade, seja através de computadores, laptops, celulares, balckberys, ipods, dvds portáteis, televisores nos carros, entre outros.

Essa primeira característica de mobilidade afeta a postura atual que temos perante a TV. A TV deixa de ser uma coisa para assistir na sala jogado no sofá e passa a ser algo que está sempre com cada um. Ao mesmo tempo existe uma resistência das pessoas de assistirem filmes no computador, por exemplo. Isso é um comportamento que está em transição. O ato, que vem sendo passado de gerações em gerações, de como assistir TV está mudando. Como disse, não sabemos que tipo de caixa preta teremos em casa, se vai ser algo mais parecido com o computador, ou com a televisão, ou se algum aparelhinho irá juntar os dois, mas sei que a nossa postura perante esse aparelhinho será diferente.

Nossa postura perante o computador irá mudar. Mas para isso acontecer temos um problema básico, que provavelmente já está com uma solução sendo desenvolvida por cientistas tecnológicos, que é a conexão com world wide web que estamos acostumados. A velocidade tem que aumentar, pois ninguém realmente vai abrir mão da instantanedade do controle remoto. A futura televisão terá a rapidez da channel surfing com a variedade da web surfing. E isso é algo que cada vez mais (e sempre) será exigido pelos consumidores.

Assim citadas as principais situações problemas em termos tecnológicos e sociais (a postura das pessoas perante a TV/ INTERNET e a velocidade da conexão e o como juntar a TV e a INTERNET EM UMA SÓ). Podemos enumerar algumas das situações que decorreram disso.

Exclusão Digitak. No Brasil temos um grande problema de exclusão digital, temos que trabalhar para inserir um número maior de pessoas nesse hábito. Obviamente, assim como a Televisão dos anos 40 as novidades tecnológicas acabam surgindo da classe superior para aos poucos ir se tornando mais acessível, temos que trabalhar essa acessibilidade, o que nos leva ao nosso segundo problema evidente.
O preço dos computadores e das novas televisões (plasma e LCD) que são as primeiras coisas que estamos vendo que começam a mostrar a junção dessas duas transformações tecnológicas.
Conhecimento tecnológico/ Qualificação do consumidor. A qualificação dos nossos clientes é o que vai fazer com que eles consumam as coisas novas que vem pela frente. Mantermo-nos leigos perante as inovações torna-se inaceitável. Hoje em dia, para se comprar uma televisão é necessário aprender qual o tipo de tecnologia que temos a venda para sabermos qual é a que mais nos interessa. Mas esse conhecimento não é algo simples como escolher feijão preto ou carioquinha. É algo que está além do nível de estudo da grande maioria da população. Esse conhecimento tecnológico tem que ser expandido e divulgado de forma que cada consumidor compre realmente aquilo que deseja.
Individualidade. A tendência do “só”. Cada vez mais fazemos tudo sozinhos, sem a presença de outros, claro que temos contato com pessoas através de internet, telefone, mas cada vez mais se está só. Isso leva também a individualização do lazer e entretenimento, o que nos leva a um próximo ponto crítico.
Conteúdo/ Publicidade. Coloco as duas coisas juntas, pois uma modifica a outra. O tão aclamado fim da publicidade não ocorrerá, mas a publicidade mudará. Não acabará porque a televisão é um produto oriundo do capitalismo e, portanto, indissociável. Mas as pessoas cada vez mais terão a maneira de acessar somente aquele conteúdo desejável. Então, a produção de conteúdo provavelmente vai ter uma disparada em relação a produção publicitária, mas isso não que dizer que empresas não estarão envolvidas nessa produção de conteúdo, agregando valor a suas marcas. Esse ponto de conteúdo é um dos que acredito que mais sofrerá mudanças. Pois ele reflete e irá ser parte da solução do problema da “postura perante a TV”
Diferenças sociais, culturais e monetárias. Com todas essas novas informações surgindo a cada dia não podemos ignorar as diferenças do público/ consumidor. Urge a necessidade de qualificarmos a grande massa. Estamos falando de um veículo de comunicação de massas, e nós temos o dever de manter o nosso consumidor ciente das alterações que estão acontecendo e informar ele de maneira correta. Não adianta termos um veículo que oferece toda a rapidez e toda a variedade se ele é muito complexo. A interface e o conhecimento devem ser de acesso fácil. Deve existir uma comunicação entre esse consumidor e nós consumidores, uma comunicação orientada, muitas vezes qualificada na pessoa do vendedor.
Ética. Com o boom de tudo isso, e a confusão que sempre caracteriza um momento de transição, temos que ter valores morais éticos bem estruturados dentro de cada um de nós comunicadores. Pois estamos produzindo conteúdo e criando soluções para algo que vai ter um impacto tão grande ou maior do que a televisão teve. Não existe uma legislação para o que tem sido feito e as leis não tem acompanhado e nem vão acompanhar a velocidade dessas mudanças. Nossos valores devem ser bem fundados e não regidos pela a ganância, de forma que seja algo a favorecer o todo e não somente intensificar o imperialismo perante o consumidor.

Agora sim. Identificamos quais são as mudanças, enumeramos quais são os principais pontos críticos dessa mudança. Temos então as principais ferramentas para poder liderar esse momento de transição. Outras ferramentas serão de extrema importância nas tomadas de decisões, como pesquisas de consumidor e de tendências. Devemos nos cercar de ferramentas de decisão antes de colocar um ponto final.

Estamos vivendo uma nova era de industrialização. Uma re-formatação a nível organizacional é eminente. Não podemos negar o monopólio da informação existente nos departamentos informáticos e como isso afetaria os mais simples negócios. Assim como Chaplin ironizou a mecanização das funções teremos uma informatização das funções. Imagine quantos vendedores serão desnecessários no momento que a maioria das vendas forem realizadas via internet.

Da mesma forma veremos uma necessidade de qualificação profissional, como disse antes, um vendedor de televisão terá um compromisso com o conhecimento tecnológico, para poder entender o que o comprador quer e poder vender o que lhe satisfará, além de conseguir explicar à esse comprador o que ele está comprando. Isso no que toca o mercado de bens de consumo onde a televisão como caixa preta se insere, mas e no mercado conteúdo, por exemplo?

Como gestor de uma emissora, a televisão como veículo, as coisas também tendem a mudar, a configuração que temos hoje de produção televisiva já está se alterando. Atualmente, o gerir de uma emissora é cada vez mais administrar o conteúdo exibido (sendo ele comprado) do que propriamente se envolver na produção de cada programa. Talvez ainda com exceção do jornalismo televisivo. O produtor executivo da televisão do futuro, será mais é alguém de administração e gestão de recursos do que alguém oriundo da produção televisiva, propriamente dita.

Temos que ter líderes que se cerquem de informações da situação, que saibam os problemas as serem solucionados, que saibam o modo do processo atual e que vislumbrem o melhor caminho a ser tomado daquilo que o futuro pode nos oferecer, que tenham, também, valores éticos embutidos para tomarem essas decisões, que serão os tijolinhos da estrada para sair desse momento de transição para uma nova cena televisiva.

CORTA!

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